"Fiquei tão só, aos poucos. Fui afastando essas pessoas assim menores, e não ficaram muitas outras. Às vezes, nos fins de semana principalmente, tiro o fone do gancho e escuto, para ver se não foi cortado. Não foi."

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011




Você é tão desprezível! Consumida nessa sua história de vida mal contada que nem abre os olhos. O que mais posso esperar de você? - Nada, lógico. Esperar de você é desencarnar ainda vivo. Não posso aguentar isso, não mais. Fiz o que foi possível. Doei o que pude para fazer você sorrir e sair deste velório armado e falso, mas não resolveu nada. Juro. Juro mesmo que tenho vontade de pegar-te pelos cabelos e socar sua cara - já inchada de tanto chorar - na parede até abrir nela algum juízo pós-traumático e fazer-te despertar. E juro, novamente, que neste momento estou me segurando para não fazê-lo!
Veja bem, o que ainda espera desse ritual fúnebre que você se tornou? Ter a compaixão dos seus adoráveis amigos? Aqueles, os mesmos, que agora viajam para Londres? Engraçado, não? Eles lá numa diversão frenética e você aqui: uma coitada! Não querida, não quero que você morra engolindo verdades. Não quero nada de você, nada. Quem tem que querer é você!
Hoje faz cinco meses e meio e você ainda está debruçada nessa almofada, que agora já não é mais azul. Está deprimente. Não a almofada, você! Deprimente porque me dá nojo de olhar essa sua cara de coitada fingida que não sabe ter atitude. Enfiaria a mão nas tuas entranhas e arrancaria todos os seus órgãos pela boca se pudesse.
Você sabia que esse amor inesperado, alimentado de maneira tão intensa, não poderia dar certo. Sei de todos os momentos bons que viveram durante esse tempo... Na verdade, nem sei. Nem sei se foi tão assim, efusivo. Mas imagino que nunca, em lugar algum, você encontrou algo parecido: sentir essa leveza; essa brisa que revela paixões faz com que as razões voem... Sei que numa dessas noites, após notícias chegarem, vocês fizeram planos. Planos são como canetas: às vezes funcionam bem até o fim; às vezes, após um tempo, se negam a funcionar. E a vida é assim! Sei que a comparação é tola – até mesmo, desprezível, assim como o estado em que você se encontra -, mas não pude conter, estava a olhá-la então pensei. Não julgue! Você não pode!

Não posso mais evitar minha revolta em vê-la assim. Pare de ficar lamentando a morte de algo que nunca nasceu. Admita que você não o ama; não suporta a maneira como ele come coxa de frango; que a irrita toda vez que ele diz a palavra “aproximadamente” (“aproximadamente” o quê? Quem precisa falar “aproximadamente”? Pra quê? Dentre tantas palavras o babaca só sabia falar “aproximadamente”? Revoltante, eu sei! Nem eu suportaria ouvi-lo falar “aproximadamente”!) e que não suportava a idéia de vê-lo combinar vermelho com amarelo. Admita que seu amor por ele não é tanto assim! Vamos, diga. Faça um favor aos outros e a si mesma, diga. Diga antes que enfie os dedos em tua garganta e a faça falar mesmo não querendo. Estou cansada dessa sua cara nojenta, com nariz escorrendo e olhos inchados. Nada é pior. Se todos os problemas do mundo se resumissem a dor da perda de alguém que supostamente amamos, estaríamos todos muito bem. Mas é muito pior, pois existe um mundo além deste que você criou e, desculpe-me novamente, muito mal.
Esses sons que você faz quando chora é irritante demais, pare com isso! Toda vez que a vejo chorando tenho vontade de quebrar dedo por dedo seu, a começar pelos seus pés. Já que quer sentir dor, chorar por dor, então terá que sentir dor de verdade, não essa baboseira mal inventada que diz sentir. E, quem sabe assim, você se torne mulher de verdade. Isso mesmo, mulher de verdade. Você não é. Você é falsa. Mulher alguma faria isso que você faz! Tome, fume este cigarro. Melhora, acredite. Se não melhorar, posso fazê-la engolir com brasa e tudo. Fume! Nem isso você consegue? Poupe-me! Vejo que estou desperdiçando o meu tempo. Pessoas como você não merecem nada, nem mesmo a morte. Seria digno demais que você morresse agora. Seria sua apoteose: a coitadinha, deixada pelo marido, morre solitária num sofá, agarrada a uma almofada ex-azul. Sinto muito, mas desejo que você viva muito para primeiro aprender a ser gente.
O quê? Não gosta do jeito que falo? Eu que não gosto desse seu rosto, seu corpo magrelo, sua pele com sardas e esse cabelo ‘a La Marlene Dietrich’. Cafona! Isso mesmo, você é tão cafona quanto o estado que se encontra.

Então, vai levantar deste sofá e reagir, ou vai ficar chorando enquanto ele está saindo com várias putas que realizam as fantasias sórdidas que ele tem? Ele está literalmente gozando de pura felicidade, enquanto você está aqui. Aprenda que nenhum homem a fará feliz enquanto você não se mostrar uma mulher melhor. Homem algum lutará por você a ponto de ultrapassar todas as próprias barreiras para tê-la nos braços, e depois destruir todos os seus sonhos juvenis sobre gostos diferentes, viagens, diversão, aventuras, colocando uma aliança em seu dedo a fazendo mãe de seus filhos - pois no fundo do fundo da alma de ambos, esta é a felicidade que procuram. Nenhum homem irá resgatá-la, então, minha querida, recolha as tranças, pois a história da Rapunzel não cabe a você. Até a Rapunzel tinha atitude, já você...

Não quer mais ouvir? Tudo bem! Já disse tudo que podia para tentar resgatá-la, mas nenhuma ajuda será melhor que a própria.

Acho que chegou a minha hora. Adoraria ficar e assisti-la definhar até não mais existir, mas tenho coisas mais interessantes a fazer. Vou ao salão de beleza. Pretendo mudar um pouco o cabelo, o que acha? Corto ou faço tintura? Bom, sua opinião não me interessa muito! Seu marido e eu... Oops! Quero dizer, seu ex-marido e eu marcamos de jantar hoje à noite naquele restaurante maravilhoso que fica na esquina da minha casa. Você conhece, não é? Pois então, estou animadíssima. Tenho que ir. Fique bem.


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